Hoje em uma
rápida troca de amenidades durante uma rapidíssima folga com uma colega no
trabalho tive a oportunidade de organizar um entre tantos pensamentos que vagam
aleatórios em minha mente. Falávamos sobre problemas que nossos alunos e suas
famílias enfrentam (preciso abrir um breve parêntese para explicar que sou
professora de pessoas com deficiência intelectual) e acabamos por falar sobre a
felicidade, pois sempre vemos muitas famílias que apesar de todas as
dificuldades, tem muita felicidade e amor. Então ela me perguntou se eu era
feliz, ao que eu respondi que felicidade está na forma como encaramos a vida,
não naquilo que possuímos, ou nos fatos e acontecimentos por si sós.
Fiquei
depois refletindo um pouco quando vinha para casa nos ônibus cheio (felizmente
não estava lotado). Talvez seja uma boa maneira de se entender a felicidade, já
que ela já foi tão discutida por filósofos, psicólogos, entre outros pensadores
(apesar de não ter nunca me aprofundado no tema, até por crer que a felicidade fosse
algo que se devesse sentir, e não explicar).
A felicidade pode estar em qualquer fato ou objeto, assim com pode não
estar, isto depende da perspectiva com que observamos tais fatos e objetos.
Talvez seja por isto que muitos dizem que “os pobres é que sabem ser felizes”,
ou “a felicidade está na ignorância”. Bem se estas frases expressão verdades
absolutas eu não ponho a mão no fogo, até por conhecer de fato exemplos
contrários. Mas que tem algum fundo de sentido, mesmo que com um ranço de
preconceito. A associação da pobreza com a ignorância é um senso comum, que eu
particularmente não gosto, mas nem por isto ignoro. Pensando por este ângulo
posso inferir que as pessoas ignorantes, ou seja, as que tem pouco conhecimento
(tenho dificuldade em imaginar quais tipos de conhecimentos seriam estes, mas
suponho que sejam conhecimentos oficialmente admitidos como tal, afinal estou
pensando sob o ponto de vista de uma ideologia oficial, vou-me valer da
expressão de Bakhtin) não tem tantos referenciais de comparação para por em
perspectiva os fatos que vivenciam, logo se satisfazem mais facilmente.
No
entanto, não concordo muito (para não dizer que discordo) com esta idéia, pois
acredito nas vertentes de cultura que defendem formas diversas de se
compreender o mundo, os fatos, os objetos, etc. logo, penso que sobre um
determinado objeto há diversas formas de conhecimentos, que dependem de cultura do meio em que se está, de sua cultura pessoal, do intertexto com as mídias de massa, etc., mas é notório que nem todas as culturas e conhecimentos são
valorados socialmente da mesma forma, o que não muda o fato de elas existirem.
Enfim! Lembro
sempre de algo que perguntei a minha mãe há alguns anos. Perguntei se ela não
se arrependia da vida de levou. Ela me explicou que veio de uma família pobre e
que desde nova ela e meus tios tiveram que trabalhar para ajudar em casa e se
sustentar. Por conta disto ela sempre
esteve muito ocupada para parar e elucubrar (esta não é uma palavra usada por
ela, mas a paráfrase é minha e eu gosto de usá-la) sobre suas escolhas de vida
e se ela era feliz ou não. Ela ia agindo de acordo com a necessidade dos
acontecimentos, como a maior parte (senão a totalidade) de nós seres humanos.
Isso me marcou, até porque desde criança tenho tendências a elucubrar e refletir
excessivamente sobre a vida (me esforçando, claro, para não me esquecer de
vivê-la em meio a tantos pensamentos).
Não parar
durante uma vida inteira para refletir sobre suas escolhas?! Nem consigo
imaginar como é isto! Mas na verdade isto me faz lembrar o que li ano passado
sobre o Budismo. Que a vida é uma rede de ações e reações tão complexa que é
quase impossível perceber todas as conexões, acrescendo que eles acreditam que o karma segue as pessoas por varias encarnações... Não tenho certeza se a
expressão correta é esta, mas é algo do gênero! Me perdoem os que entendem
melhor sobre o assunto, até porque estou apenas falando livremente, sem fins de precisão teórica... Prosseguindo em minha livre interpretação... Esta rede de ações e reações eles chamam de karma (Não sou budista, mas gosto de pensar
assim... menos a parte da encarnação... até porque já pensava assim antes de
saber que os budistas pensam assim também) e que tudo em nossa vida esta ligado
ao Karma, ou seja, as nossas ações, que partem sempre de uma escolha, por mais
irrefletida que ela seja. Contudo eles dizem que a raiz do sofrimento esta no
desejo, pois sempre desejaremos mais do que aquilo que temos ou que podemos ter, logo isto nos
impediria de ser felizes. Não concordo 100% com esta parte, ela tem sua
porcentagem de razão, principalmente para as pessoas que tem mania de
condicionar a sua felicidade às coisas que não possuem. Carros, casas, roupas, corpo, namorado,
emprego, salário, amigos, etc.
Bem, depois
muitas interrupções, perdi o fio da meada e meu instante de iluminação passou.
Meu pensamento a pouco tão organizado se desestruturou novamente. Quiçá eu lembre em outro momento e continue a
escrever... Provavelmente não o farei...