terça-feira, 1 de março de 2016

O MACHISMO E A DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO NO BRASIL

         Ao ver isso no Facebook de um conhecido no dia 19 de fevereiro deste ano me indignei e me senti obrigada a responder. É muito triste ver quando o Governo, as políticas públicas, as entidades com voz na sociedade se empenham em fingir ignorar a necessidade de se discutir a descriminalização do aborto no Brasil e a necessidade de entender isto como um direito da mulher e como uma questão de saúde pública. Isso só demonstra o machismo arraigado em todos os âmbitos da sociedade brasileira. Mesmo com a crise de saúde pública ocasionada pelo Zika vírus e aumento gigantesco dos casos de microcefalia, nem assim vemos discussões sérias sobre o assunto.

         Segue abaixo minha resposta:

"Nossa como se compartilha essas "coisas" pelo Face. Me sinto indignada e obrigada a responder as vezes...
"Querido, isso já acontece há muito tempo. Vc acha que a legislação mudou para que os genitores masculinos sejam obrigados ao menos a pagar pensão alimentícia e "assumir a paternidade" ( Leia-se dar o sobrenome a criança), por quê???... E ainda vemos nos telejornais avós sendo presos pela negligência desses "pais"... Deixando bem claro que no Brasil o aborto não é infração, mas crime passível de reclusão de até 3 anos... Sendo o Brasil um Estado Laico, suas leis não deveriam ser baseadas em crenças e preceitos de determinada(s), religiões. Dando direito a cada um de usufruir do seu direito de acordo com suas crenças. Legalizar o aborto não é "obrigatoriezar" o aborto, mas dar direito (e não punir) as pessoas que _de acordo com seus valores e crenças_ decidam pratica-lo... Isso não infringe de modo nenhum o direito de um cristão, ou qualquer outro que creia que aborto é um pecado ou que não seja correto, ou karma ruim, de não praticá-lo. A legalização ou descriminalização vai universalizar o direito da escolha e garantir segurança e dignidade para quem optar por fazê-lo (Entenda universalizar como: contemplar o direito de quem não deseja praticar e de quem deseja praticar o aborto)... Claro que se sua religião condena, mas ainda sim vc praticar (por sua motivação única, pessoal e intransferível) vc ainda terá que lidar com sua consciência (já que estaria agindo contra o q acredita ser correto) e com sua comunidade religiosa... Porém não será presa, nem obrigada a arriscar sua vida em locais sem estrutura adequada, ou com medicamentos q possam causar danos a sua saúde... Será um problema de cada um com.a sua consciência (o q é bom!... É importante se ter consciência de seus atos...). Porém criminalizar o aborto e negar tratamento de saúde adequado a uma mulher nessa situação, é o mesmo que negar tratamento de câncer ao fumante inveterado, ou aquele que tem cirrose hepática devido ao alcoolismo, ou tratamento a viciados que queiram abandonar seus vícios, ou tratamento a motoristas e motoqueiros que causam acidentes de trânsito (Porque eles sabiam o que estavam fazendo!)... Alegar q a mulher é culpada (criminalizada) e não deve receber tratamento de saúde (aborto em hospitais e tratamento pós operatório) pq "ela sabia o q estava fazendo" é machismo e misoginia, não só por parte de homens, mas também de mulheres e muita gente por aí, que não percebem a diferença entre crença e Lei, querendo fazer de suas crenças a Lei." ...Ainda esqueci de citar nosso falho e parco sistema de adoção, e as pobres campanhas de controle de natalidade e DST's... que este ano nem no carnaval vi propagandas sobre o uso de camisinha... coisa que em décadas anteriores até se via... Pelo contrário, vemos a Malhação e a novelas mostrando o quando é linda e idílica a gravidez na adolescência, e que tudo se resolverá com o apoio dos "amigos" e da família... indo contra as estatísticas que mostram que uma das maiores causas da desistência escolar entre as mulheres jovens e adolescentes é a gravidez indesejada e "despreparada"... E quantas mulheres não deixam de usar preservativo por insistência de seus parceiros, que alegam "não gostar", pq "tira o prazer"??? Não se nega há erros! Muitos erros! Erros por parte do homens, das mulheres, das famílías, da Igreja e do Estado... Mas a solução é criminalizar??? E criminalizar principalmente a mulher??"

"Paulo Modesto Júnior De fato Cynthia seus argumentos são em sua grande maioria parcialmente ou totalmente pertinentes.
Porém no Brasil a mulher que não realiza o aborto mesmo não querendo aquela gestação, (independentemente do nível de insatisfação em estar grávida) é obrigada a ficar com aquela criança após o parto ?"

"Oi Paulo! Bom dia! Obrigada por ler. Meu querido existe a possibilidade sim de entregar o bebê para adoção, mas fazendo uma pesquisa no Google vi que as informações sobre como proceder nesses casos é muito escassa. Muito mesmo! Até me surpreendi. Encontrasse com mais facilidade informações sobre como adotar uma criança. O que também acho muito bom e que deve ser estimulado. Porém, informações sobre como por uma criança para adoção (abdicar da maternidade) não encontrei muitas, não. Apenas uma explicação de que abandonar um bebê é crime, mas entregar para adoção, não.... Bem... Entendo que por falta de informação, de apoio, de orientação necessária é que vemos tantos casos de mulheres desesperadas que abandonam os bebes na rua ou dão de forma irregular para terceiros... Num único site que encontrei apenas parágrafos de boa informação, deu para entender que levando a criança ao juiz ou órgão competente (não deixou bem claro qual... Já que não chegamos aos juízes com tanta facilidade... Há tramites prévios necessários) há uma avaliação... Não foi explicado... Eu tbm gostaria de entender mais sobre como dar uma criança para adoção, mas, ao menos na internet não achei grande ajuda, e veja que faço parte de um grupo social que, tecnicamente, tem mais acesso à informação... Eu fico Imaginando o caso muitas mulheres grávidas: Moradoras de rua (algumas viciadas e/ou com distúrbios psicológicos), jovens de baixa ou baixíssima renda, ou com pouca escolaridade, habilidade de leitura e compreensão de texto muito aquém do ideal... Tenho certeza que elas teriam muito mais dificuldade de buscar informação em meios escritos como a internet... Tvlz em serviços de assistência social... Vi algumas mocinhas alegando ter entre 14 e 16 anos perguntando o que fazer ou perguntando se alguémqueria adotar o filho delas no YahooAnswers... As respostas nãofiram nada instrutivas e a maioria carregada de críticismos ou argumentos do tipo "e se vcse arrepender depois?"... Mas há também mulheres em situação não tão ruim como as que citei, mas que por motivações individuais queiram dar seus filhos à adoção... Não saberia o q te dizer nesses casos, já q não achei a informação... Mas gostaria de perguntar aos colegas que entendem mais sobre o assunto Luanna e Fabio qual os procedimentos para que uma mulher entregue seu filho a adoção? Qualquer mulher pode fazer isso em qualquer momento?"