sábado, 22 de maio de 2010

Comentários sobre o texto "Excesso de amor OU Falta de cobrança?"

Esta semana recebi, por email, respostas muito interessantes ao texto que postei. Penso que elas são muito ricas para não serem publicadas, pois com elas percebi que as preocupações que havia escrito não são somente minhas, mas de muitos, profissionais da educação e de outras áreas, já que a questão de se IMPOR VALORES SOCIAIS para estas novas gerações não é algo concernente somente à educação formal, mas sim uma obrigação da sociedade como um todo.

E isso não é nem de longe uma chamada ao retorno da ditadura, ou a perda da liberdade individual pela qual as gerações anteriores lutaram tanto. Na verdade é um apelo para que se reflita sobre O QUE É ESSA TAL LIBERDADE. O que é liberdade e o que é desrespeito ao direito dos outros?

Lembro de alguns professores da minha infância que sempre evidenciaram que "meu direito termina assim que começa o do outro". Eu demorei muito a entender essa premissa, mas hoje entendo que não podemos confundir direitos com achar que podemos fazer tudo o que queremos, pois nossos “quereres” sempre entraram em conflito com os “quereres” alheios e se ninguém souber ceder, então a sociedade não tem como existir, pois viver em sociedade significa fazer a todo o momento concessões de nossas vontades pessoais em prol do bem comum. As pessoas parecem não entender isso, infelizmente... E as novas gerações nem sequer sonham com tal idéia...

Cynthia (22 de maio de 2010).
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Perfeito Petrus,

Texto lúcido, real, na medida certa. Aponta a cobrança como uma necessidade para conter os excessos da liberdade que me parece ter insurgido com mais veemência a partir dos anos 60 em todo o mundo, e teve grande ressonância no Brasil. Movimento necessário, considero. Mas, como um pêndulo, passamos pela posição de equilíbrio e fomos para o extremo oposto.

Lembro que, por volta dos anos 70 uma psicóloga permitiu que a filha miúda, de um três anos de idade, saísse para um aniversário com sandália havaiana e trajes poucos adequados à ocasião, alegando que não poderia contrariar a criança para não afetar sua personalidade em construção. Uma tia minha da "linha dura" relatou o fato e disse que com ela isso não aconteceria, pois funcionaria a "paussicologia".

O texto da Cynthia me remeteu a esse fato, pois eu era adolescente e já ouvia questionamentos desse tipo:  se permitirmos tudo onde é que vamos parar? A Cynthia mostrou muito bem aonde, 40 anos depois.

Abraço!

Licurgo (17 de Maio de 2010).
PS: Peço autorização para encaminhar a alguns colegas esse texto. Acreditando no retorno do pêndulo.
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Petrus,
Muito bom o texto da Cynthia.

Reflete, de forma fiel, a perda de valores e a decadência da educação, não só a pública, como também a particular, pois o que acontece nas salas de aula do público também se repete no privado, apenas com a diferença de abordagem, para encobrir o que é comum aos dois.

Repassei para os meus contatos, pois vale a pena refletirmos, todos, em busca de uma chamada mobilização para mudar o que aí está.

bjs

Georgia (17 de Maio de 2010)__________________________________________________________________

Oi cynthia!
Parabéns pela reflexão em torno de um mal silencioso que vem se alastrando... "como um câncer"... em casas e nas escolas... por razões até certo ponto absurdas, como vc narrou... certamente chega a ser frustrante a tentativa de fazermos nosso papel isolado como educadores... Sem o envolvimento (cobrança) de todos (ao menos a maioria das personagens sociais desse trama ou drama), torna-se impossível avançarmos. E o que é pior: reter esse câncer e suas mazelas aldas (violência, impunidade, desrespeito, etc etc)...

Forte abraço e parabéns pelo texto-reflexão, tão necessário e oportuno pra todos os momentos.

Benoni (18 de maio de 2010)______________________________________________________________________

Petrus, bom dia.

Muito bom o texto – reflexão.

Na minha opinião é exatamente o que acontece. Tudo é responsabilidade dos outros. Todos são responsáveis pelo que “eu” (aluno, adolescente) faço e sou. “Eu” não sou responsável por nada. Os professores que não sabem ensinar, o estado que não dá condições, a família que não faz o que “eu” quero... e assim por diante. Todos tem que se esforçar, menos “eu”. Essa é a mentalidade operante atualmente. E pior, ela já não está mais só no ensino médio, fundamental, está atualmente muito presente no ensino superior.

Lamentavelmente ontem estava falando justamente sobre isso. Da decepção cada vez maior em lecionar. Um número cada vez maior de aluno já chegam na universidade assim. Por exemplo, estava falando de alguns alunos que depois de uma prova que eu passei vieram reclamar que ela estava muito “difícil”. Depois de muito ouvir, lhes informei que o nível estava bem abaixo do que realmente deveria ser cobrado, pois as questões estavam em nível de química geral e eles estavam cursando uma disciplina mais avançada. Imediatamente me responderam que não estudaram aquilo em química geral. Então eu lhes lembrei que tudo que foi pedido na prova foi dado em sala de aula, em um nível inclusive muito maior. Ai argumentam que não podem vir sempre às aulas, ou seja, eles faltam muito. Da maneira como colocam, estão querendo dizer que eu sou responsável até por eles faltarem, ou então que eu não deveria ficar cobrando coisas que foi dada quando eles não estavam cumprindo suas obrigações de pelo menos assistir a aula!!!

Novamente, TODOS SÃO RESPONSÁVEIS, MENOS “EU”.

Lamentavelmente ao longo desses 15 anos só noto que as coisas estão cada vez piores. A Mentalidade que sua filha muito bem coloca ao longo do texto já chegou e se instalou com toda a força na universidade.

Enfim, não existe aprendizado sem muito trabalho de quem deve aprender. Há um tempo atrás, lendo um projeto “pedagógico” de uma grande universidade, não me lembro se Harvard, Oxford, a linha central do projeto dizia que para cada hora de aula o aluno deveria ter três horas de estudos individuais. OU seja, esforço, responsabilidade.

Poderia discorrer ainda muito sobre isso, mas dê meus parabéns a sua filha, pela visão cristalina e corajosa de seu texto. Tem meu humilde apoio.

Saudações.

Zamian (19 de Maio de 2010)___________________________________________________________________


Amigo Petrus
Muito interessante e verdadeiro o texto da Cynthia, imagino o quanto esta professora sofre com a terrível realidade: ensino a quem? O que será absorvido? Quem sairá preparado? E o meu grau de defesa?... CONFLITO

No nosso tempo, que não faz muito tempo, os pais comandavam totalmente a educação dos filhos e os responsabilizavam pelo respeito aos professores Ah! As escolas públicas, as melhores. Nelas discutíamos valores sociais, políticos, econômicos e comportamentais e, os movimentos estudantis embalados por sonhos coletivos.

Hoje, é proibido reprovar, é proibido punir, os pais se desobrigaram de educar, ficando as responsabilidades aos professores. Tudo porque precisamos mascarar para o mundo que cada vez mais estamos nos distanciando do fantasma do analfabetismo (...).

Suzana Lobão (19 de maio de 2010)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Excesso de amor OU falta de cobrança? (Uma visão sobre o ensino no Brasil)

...

Estou refletindo sobre os casos de alguns alunos meus (boa parte se enquadra nessa categoria) e percebo que os pais vem confundindo AMOR com NÃO EXIGIR RESPONSABILIDADE dos filhos.

Um dia desses uma mãe veio conversar comigo sobre seu filho e me falou de seu empenho para que ele só começasse a trabalhar depois de terminar (ao menos) o ensino médio. O que de modo geral é um desejo e um empenho digno de respeito. No entanto, o que me faz parar para pensar é o fato de ele estar com 16 anos na 6ª série do fundamental. Ou seja, pelo menos 4 anos atrasado e com um mau desempenho neste ano letivo. Se ele continuar assim terminará o ensino médio beirando os 30, ou mais... Será que uma mãe de baixa renda (por maior que seja sua boa vontade) pode sustentar um filho (para que este se dedique unicamente aos estudos) até a idade de 30 anos?!

E aí entra outro ponto. Sustentar “para que este se dedique unicamente aos estudos”. Mas, pelo que se observa, não é o que está sendo feito por parte deste adolescente. E é o que, infelizmente se pode generalizar do comportamento da maioria dos adolescentes (alunos de 5ª a 8ª e do ensino médio). E me pergunto, então:

# Será louvável que esta mãe se dedique tanto para que ele termine seus estudos, sem antes precisar começar a trabalhar?!

# Será que ela não está contribuindo para que ele protele a tomada da responsabilidade por seus atos ou para que nunca seja responsável por eles?


# Será que não falta, para está mãe, cobrar mais para que seu filho cumpra sua parte no contrato “Te sustentar PARA QUE estudes”?

# E se o filho não cumpre sua parte no contrato, por que a mãe deve se resignar em continuar cumprindo a sua?!

Há desse modo uma corrupção do contrato, que se torna “Te sustentar PARA QUE NÃO estudes”. E, por conseqüência, esta mãe entra em um ciclo vicioso, pois provavelmente será fadada a SUSTENTAR financeiramente este filho que não cumpre sua parte, seu papel, sua única obrigação, que é a de estudar. Logo, será que um dia ele estará preparado para cumprir suas obrigações, na medida em que não está sendo treinado para isso agora?

Nós sabemos que existem muitos motivos que explicam porque os adolescentes perdem o interesse pelos estudos. Há razões de ordem hormonal, sexual, psico-afetiva, ideológica, e assim por diante. Eles são bombardeados por mídias muito mais interessantes e apelativas que as que a escola proporciona ou pode proporcionar. Mas eu me indago:

#Tenho que aceitar estas questões como JUSTIFICATIVAS (ou desculpas) para que eles (os alunos) não estudem? Para que eles não cumpram sua parte no processo de ensino-aprendizagem?

# Pode haver ensino-apredizagem onde só o professor ENSINA e os alunos NÃO ESTUDAM?!

Eu até gostaria de saber se há algum modo deles aprenderem sem assistir aula (gazetando); sem prestar atenção na explicação; sem ler os livros ou apostilas; sem copiar a matéria do quadro (ou de qualquer outra mídia); sem fazer as atividades propostas; fazendo Ctrl+C – Ctrl+V nos trabalhos de pesquisa (sem sequer ler o que estão pesquisando!); sem deixar o professor dar uma boa explicação (ou uma explicação mínima, ao menos) sobre um assunto (bagunçando, gritando, brigando, xingando EM SALA DE AULA NA FRENTE DO PROFESSOR). Isso é possível?!

Eu fico pensando e acho que há uma falta de cobrança geral para com a responsabilidade dos estudantes. Nós professores somos obrigados a “entender” (ou seja, APROVAR) todos os “problemas” dos alunos, e permitir que eles usem isso como desculpa para NÃO ESTUDAR, logo, NÃO APRENDER. Pois não há aprendizagem sem esforço por parte daquele que estuda (ou deveria estudar). Não importa se este tenha acesso a tudo que há de melhor em termos de educação. A diferença se dá nos resultados. Naquilo que acontece da vida desses “DESESTUDANTES”, pois, se suas famílias tem condições financeiras melhores, podem ajudá-los a superar e alcançar uma independência, mesmo que tardia. Mas e no caso das famílias mais pobres?! Não creio que estes possam dar este suporte (por mais que não lhes falte boa vontade, nos casos onde ela existe).

Eu penso que hoje em dia falta cobrança. COBRAR QUE OS ESTUDANTES sejam estudantes de verdade e ESTUDEM! Todas as gerações antes dessa tiveram seus problemas. Todos passamos por problemas hormonais, sexuais, psico-afetivos, fomos bombardeados por informações de mídias muito mais atraentes que as da sala de aula. Mas fomos EXIGIDOS, COBRADOS, RESPONSABILIZADOS pelas conseqüências, caso não cumpríssemos nossa função de estudar.

#Será que essa cobrança é algo perverso que deve ser banido?


#Será que exigir o respeito às regras não faz parte do aprendizado do ser humano para ser um ser social?!

#Será que devemos esperar que os alunos aprendam a cumprir seus deveres de cidadão de forma natural, sem precisar ensiná-los isso?


#Existe aprendizado formal sem cobrança?


#Será que devemos aprovar nossos alunos, mesmo que estes estejam na 8a série sem saber ler, sem saber respeitar hierarquias (O que há de errado em haver hierarquias?), sem habilidade social de comportar-se adequadamente aos contextos? Ou será que somente o contexto escolar será desrespeitado por estes alunos?!


# Devemos aprovar os alunos para que os números mostrem que o analfabetismo está sendo erradicado do Brasil?! ... Mesmo com toda falta de cobrança, nosso IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) é o pior do Brasil... e o do IDEB do Brasil é um dos piores do mundo... Aparentemente a "forçação de barra" institucionalizada para que os alunos sejam promovidos de série, mesmo sem aprender, não está surtindo o efeito desejado...

# O que APROVAÇÃO tem a ver com aprendizado e com QUALIDADE de ensino?!

# Por que não cobrar CONHECIMENTO como MEDIDA DA QUALIDADE de ensino?!


# Por que permitir que os alunos se conformem com a mediocridade de uma média 5 conseguida sem duras penas, ou sem pena nenhuma? Pois os alunos ganham pontos para tudo, inclusive para não violentarem seus professores (fora ou dentro da escola).

# Devemos, nós professores, dar pontos para que nossos alunos não nos roubem, não nos agridam, não nos matem (ou falem para que outros o façam)?! Infelizmente isso é uma realidade hoje em dia...

Acho que muitos estudos já foram feitos no sentido de buscar a responsabilidade dos educadores nas falhas do processo de ensino-aprendizagem. E são estudos extremamente louváveis e ricos. Mas penso que é necessário se pensar também no viés da RESPONSABILIDADE DOS ALUNOS pelo seu processo de APRENDIZAGEM. Claro que creio em nossa responsabilidade em fiscalizar os alunos para que façam sua parte.

# Em que ponto PAIS, ESCOLA E ESTADO estamos sendo negligentes em NÃO COBRAR de nossos alunos para que cumpram suas OBRIGAÇÕES?!
# O que há de errado em COBRAR RESPONSABILIDADE dos alunos?!


# Será que a falta de respeito dos ALUNOS com a ESCOLA (docentes, funcionários e discentes) não é decorrência desse abrandamento da cobrança do CUMPRIMENTO DE SUAS RESPONSABILIDADES? Afinal ELES NÃO SÃO RESPONSABILIZADOS POR SEUS ATOS. A culpa é sempre de terceiros (Família - escola - Estado).

Eu converso com meus alunos e sempre tento fazê-los perceber a importância da RESPONSABILIDADE PESSOAL. Tento orientá-los no sentido de primeiramente procurarem seus erros e depois os alheios, com relação ao que pode dar errado em suas vidas. É quase um exercício religioso... É frustrante... Seria mais fácil apelar para religião, pois está não requer reflexão, somente a aceitação. Eu acho que esses ADOLESCENTES DA ATUALIDADE SÃO EXTREMAMENTE INCONSEQÜENTES. Digo isso no sentido de que eles (de modo geral) NÃO DEMONSTRAM, nenhum pouco, PENSAR SOBRE AS CONSEQÜÊNCIAS DE SEUS ATOS. E isso não somente no que tange os estudos, mas em todos os sentidos. Isso é muito triste e preocupante, pois me faz temer um futuro de barbárie.

Ouvimos tantas notícias e conhecemos tantos casos de adolescentes matando seus colegas dentro de escolas (por vezes dentro da sala de aula); agredindo verbal e fisicamente alunos e professores; transando dentro das escolas (gravando e pondo no Youtube), Além da questão da criminalidade e das drogas que são problemas sociais gravíssimos e que também atingem as escolas (inclusive as onde eu trabalho). Eu fico pensando: Será que esta falta de cobrança para com a responsabilidade dos alunos não é uma das causas dessa violência escolar (e social) desenfreada?!

Fico lembrando da aura de medo e respeito que havia nas escolas na época da minha geração em das anteriores. Nós tínhamos toda uma preocupação no modo como falar e de nos portar na frente dos professores, diretores, coordenadores, secretários, inspetores, bombomzeiras, merendeiras. E caso nos descuidássemos dessa preocupação éramos devidamente repreendidos. Lembro que minha mãe me conta de uma vez que foi suspensa porque estava sentada na mesa (enquanto o professor não estava em sala) e me cogito se certas punições não devem ser usadas com mais freqüência. Tenho refletido sobre a importância do MEDO NA EDUCAÇÃO. O MEDO E O RESPEITO ANDAM JUNTOS. Ninguém respeita o que não teme. Antes os professores eram temidos; a reprovação era temida (Hoje os alunos repetentes são tratados como pop stars...) . O ambiente escolar era ordenado com base no respeito imposto pelo temor. Isso foi muito criticado, mas agora, vendo nossas escolas e nossa sociedade como estão, me pergunto: será que este temor (em uma medida justa) não deve ser restaurado?!

Hoje em dia os alunos brigam dentro de sala (na frente do professor, que muitas vezes tem que apartar a briga) e recebem apenas uma advertência ou são mandados para fora de sala (o que muitos já fazem sem precisar de solicitação do professor) para ficarem gazetando e atrapalhando os alunos e mangando dos professores que estão trabalhando. No meu tempo as pessoas que gazetavam se escondiam para que não fossem pegas pelo inspetor ou ficavam longe da sala batendo papo-furado. Hoje eles ficam na porta da sala para atrapalhar os alunos que estão dentro. E nós professores temos que tomar cuidado para que eles não gravem algo que façamos em sala e tentem nos prejudicar postando vídeos no Youtube ou mesmo processando-nos com algum pretexto esfarrapado... Será que nós professores podemos gravar nossas aulas, a fim de processar os alunos por desrespeito, por sermos violentados todos os dias psicologicamente e por vezes fisicamente também?!

Há muita coisa a ser dita e ver essas coisas todos os dias e não conseguir modificá-las, mesmo com muito esforço para tal, é muito desgastante e desestimulante para um professor e pessoa. Eu fico me perguntando se eu já fui assim INCONSEQUENTE... Mas eu sempre fui “esquisita” desde nova... Sempre pensei muito em tudo, principalmente nas conseqüências dos meus atos. Mas eu sigo pensando, não é necessário que todos sejam altamente responsáveis por natureza, mas É NECESSÁRIO QUE HAJA A COBRANÇA, pois, ao que se vê, se não houver, o caos saíra das escolas e se generalizará. Mas se ainda não se generalizou completamente, o certo é que ele está se espalhando como um câncer... não lento e nem indolor...