terça-feira, 24 de abril de 2012

SOBRE A FELICIDADE



Hoje em uma rápida troca de amenidades durante uma rapidíssima folga com uma colega no trabalho tive a oportunidade de organizar um entre tantos pensamentos que vagam aleatórios em minha mente. Falávamos sobre problemas que nossos alunos e suas famílias enfrentam (preciso abrir um breve parêntese para explicar que sou professora de pessoas com deficiência intelectual) e acabamos por falar sobre a felicidade, pois sempre vemos muitas famílias que apesar de todas as dificuldades, tem muita felicidade e amor. Então ela me perguntou se eu era feliz, ao que eu respondi que felicidade está na forma como encaramos a vida, não naquilo que possuímos, ou nos fatos e acontecimentos por si sós.
                Fiquei depois refletindo um pouco quando vinha para casa nos ônibus cheio (felizmente não estava lotado). Talvez seja uma boa maneira de se entender a felicidade, já que ela já foi tão discutida por filósofos, psicólogos, entre outros pensadores (apesar de não ter nunca me aprofundado no tema, até por crer que a felicidade fosse algo que se devesse sentir, e não explicar).  A felicidade pode estar em qualquer fato ou objeto, assim com pode não estar, isto depende da perspectiva com que observamos tais fatos e objetos. Talvez seja por isto que muitos dizem que “os pobres é que sabem ser felizes”, ou “a felicidade está na ignorância”. Bem se estas frases expressão verdades absolutas eu não ponho a mão no fogo, até por conhecer de fato exemplos contrários. Mas que tem algum fundo de sentido, mesmo que com um ranço de preconceito. A associação da pobreza com a ignorância é um senso comum, que eu particularmente não gosto, mas nem por isto ignoro. Pensando por este ângulo posso inferir que as pessoas ignorantes, ou seja, as que tem pouco conhecimento (tenho dificuldade em imaginar quais tipos de conhecimentos seriam estes, mas suponho que sejam conhecimentos oficialmente admitidos como tal, afinal estou pensando sob o ponto de vista de uma ideologia oficial, vou-me valer da expressão de Bakhtin) não tem tantos referenciais de comparação para por em perspectiva os fatos que vivenciam, logo se satisfazem mais facilmente.
                No entanto, não concordo muito (para não dizer que discordo) com esta idéia, pois acredito nas vertentes de cultura que defendem formas diversas de se compreender o mundo, os fatos, os objetos, etc. logo, penso que sobre um determinado objeto há diversas formas de conhecimentos, que dependem de cultura do meio em que se está, de sua cultura pessoal, do intertexto com as mídias de massa, etc., mas é notório que nem todas as culturas e conhecimentos são valorados socialmente da mesma forma, o que não muda o fato de elas existirem.
Enfim! Lembro sempre de algo que perguntei a minha mãe há alguns anos. Perguntei se ela não se arrependia da vida de levou. Ela me explicou que veio de uma família pobre e que desde nova ela e meus tios tiveram que trabalhar para ajudar em casa e se sustentar.  Por conta disto ela sempre esteve muito ocupada para parar e elucubrar (esta não é uma palavra usada por ela, mas a paráfrase é minha e eu gosto de usá-la) sobre suas escolhas de vida e se ela era feliz ou não. Ela ia agindo de acordo com a necessidade dos acontecimentos, como a maior parte (senão a totalidade) de nós seres humanos. Isso me marcou, até porque desde criança tenho tendências a elucubrar e refletir excessivamente sobre a vida (me esforçando, claro, para não me esquecer de vivê-la em meio a tantos pensamentos).
Não parar durante uma vida inteira para refletir sobre suas escolhas?! Nem consigo imaginar como é isto! Mas na verdade isto me faz lembrar o que li ano passado sobre o Budismo. Que a vida é uma rede de ações e reações tão complexa que é quase impossível perceber todas as conexões, acrescendo que eles acreditam que o karma segue as pessoas por varias encarnações... Não tenho certeza se a expressão correta é esta, mas é algo do gênero! Me perdoem os que entendem melhor sobre o assunto, até porque  estou apenas falando livremente, sem fins de precisão teórica... Prosseguindo em minha livre interpretação... Esta rede de ações e reações eles chamam de karma (Não sou budista, mas gosto de pensar assim... menos a parte da encarnação... até porque já pensava assim antes de saber que os budistas pensam assim também) e que tudo em nossa vida esta ligado ao Karma, ou seja, as nossas ações, que partem sempre de uma escolha, por mais irrefletida que ela seja. Contudo eles dizem que a raiz do sofrimento esta no desejo, pois sempre desejaremos mais do que aquilo que temos ou que podemos ter, logo isto nos impediria de ser felizes. Não concordo 100% com esta parte, ela tem sua porcentagem de razão, principalmente para as pessoas que tem mania de condicionar a sua felicidade às coisas que não possuem.  Carros, casas, roupas, corpo, namorado, emprego, salário, amigos, etc.
Bem, depois muitas interrupções, perdi o fio da meada e meu instante de iluminação passou. Meu pensamento a pouco tão organizado se desestruturou novamente.  Quiçá eu lembre em outro momento e continue a escrever... Provavelmente não o farei...