sábado, 6 de março de 2010

a) Absolutamente nada

Um dia desses eu estava na escola conversando com algumas professoras e um professor, quando uma delas apareceu com um Guia Astral (revistas de horóscopo) e eu, que quando adolescente gostava de ler, peguei-a para folhear e me deparei com aqueles testes: “você é fiel?” “seu gato é sua alma gêmea?” e um bastante apelativo aos olhos: “você é quente na cama?”. Eu brinquei dizendo aos meus colegas que adorava fazer esses testes quando era nova e comecei a ler as questões do “você é quente na cama?”, automaticamente respondi a 1ª pergunta riscando a revista que não me pertencia, então apaguei e comecei a responder mentalmente as perguntas. Poucos minutos depois fiquei entediada com “profundidade” das respostas daqueles testes e larguei o Guia Astral na mesa. Depois de papo vai, papo vem o professor, nosso colega, pegou a revista e começou a folhear também e viu a sombra da resposta que eu havia apagado e começou a "encarnar", por que a resposta era: “a) Absolutamente nada” para a pergunta: “O que lhe impediria de tentar algo novo na cama com seu parceiro?”. Como são colegas meus de pouco tempo preferi não dar verdadeiras explicações e disse apenas que não tinha uma resposta melhor (o que não era mentira, pois apesar de não lembrar quais as alternativas, lembro que eram muito piores que a marcada). E ficamos falando besteira e rindo dos testes. Quando voltava da escola comentei com meu namorado sobre o ocorrido e ele brincou dizendo: “Tudo mesmo? Até comer cocô?!” e eu gritei: “Credo!!! Escatologia não é minha praia!!!”. Depois fiquei pensando naquele teste e na falta de resposta adequadas que eles oferecem e depois fiquei pensando no porque fiquei com vergonha de responder mais direta e verdadeiramente quando fui indagada sobre porque tinha marcado aquilo.

Realmente tinha dito a verdade. Não havia uma resposta melhor para marcar, mas aquela que havia marcado tampouco era a resposta verdadeira. Com certeza existem muitas coisas que não faria com meu parceiro na cama e muitas coisas que talvez nunca faça. O que penso ser absolutamente normal. Não digo isso em um sentido “puritano” do tipo: “Ah! Eu só faço papai e mamãe!”, mas digo isso porque acredito que TUDO é uma abstração sem referencial concreto. Lembrei de quando estava no 1º ano do finado 2º grau, agora ensino médio, lá no NPI (agora escola de Aplicação) e o Professor de artes, Cartaxo me perguntou que tipo de música eu gostava e eu respondi toda contente: “Eu gosto de um pouco de tudo!” e ele respondeu: “Mas você conhece todos os estilos musicais?”. E como sempre eu parei e pensei e realmente vi que essa era uma resposta simplista, porque não se pode conhecer tudo, nem se fazer tudo, nem se dizer tudo, nem pensar, nem querer, nem crer... Porque tudo é um ideal, é algo que não podemos alcançar, apesar de ansiarmos por isso. Claro que essa parte eu só aprendi depois de estudar filosofia por 5 semestres na faculdade.

Enfim! É impossível se fazer tudo na cama. Nem que nós “live forever” e catalogássemos todas as posições e loucuras que fizéssemos na cama (ou em qualquer outro lugar) não conseguiríamos fazer tudo, pois isso não existe. Até a idéia de "fazer tudo que queremos" é meio tola. Nós nunca sabemos tudo o que queremos porque sempre queremos coisas diferentes. O querer não é cumulativo. Não podemos listar as coisas que queremos como numa lista de compras e fechá-la e dizermos: “Taí! Isso é tudo o que eu quero!”, porque nossos desejos mudam. Quantas coisas quisemos e hoje não queremos mais? Quantas coisas desejamos por um breve momento? Quantas coisas vamos querer e deixar de querer? Até porque o querer, o desejar só existe até saciarmos nossa vontade. Eu queria muito me formar. Me formei, agora não quero mais isso. Eu queria tanto começar a trabalhar (digo tralhaho em oposição a desemprego). Agora que já trabalho eu quero apenas continuar para me sustentar. Agora começar a trabalhar já não é um desejo, já tenho outros tantos que surgiram em decorrência deste que consegui realizar.

De qualquer modo, ainda bem que não falei essas coisas pro meu colega professor, porque senão teríamos perdido algumas risadas preciosas e agora eu venho aqui me retratar e explicar porque respondi “a) absolutamente nada”. Porque apesar de pecar pelo excesso, ela não pecou pela falta, como as outras alternativas.

Belém, 06 de março de 2010

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